Odontologia e o Diabetes




O Diabetes Mellitus constitui uma síndrome caracterizada por ausência relativa ou absoluta de insulina, pela alteração do metabolismo de carboidratos, proteínas e gorduras. Pode ser conceituado como uma alteração metabólica caracterizada por aumento da glicose circulante no sangue (hiperglicemia) e o aumento da glicose eliminada pela urina (glicosúria).
O diabetes causa uma distorção no equilíbrio entre a glicose que é utilizada pelos tecidos e a glicose que é liberada pelo fígado e causa também uma distorsão na produção e liberação dos hormônios pancreáticos, da hipófise anterior e da supra renal. 

A insulina é um hormônio proteico cujas principais funções são:
  •  impedir que a taxa de açúcar no sangue venha a ultrapassar, após a alimentação, os valores de 160-180 mg/dl; 
  • armazenar glicose no fígado e nos músculos na forma de glicogênio; 
  • participar do crescimento ósseo, muscular e de vários órgãos. 
A produção de insulina é regulada de acordo com os tipos e a quantidade de alimentos ingeridos. A insulina exerce a sua função de manter os níveis de açúcar na corrente sanguínea, em valores normais, pelo mecanismo de feedback, ou seja, conforme os níveis de açúcar no sangue caem, a insulina através da utilização de receptores na superfície celular permite a passagem da glicose para o interior da célula.
A insulina participa da produção de colágeno, como catalisador da biossíntese de ácido hialurônico, que é uma glicoproteína sintetizada pelos fibroblastos e osteoblastos.
 Quando a quantidade de insulina é pequena, como ocorre nos pacientes diabéticos não-compensados, a reparação dos tecidos lesados é mais lenta.  Os tecidos bucais são bastantes resistentes à tração mecânica, sendo que essa resistência  é proporcional à quantidade de colágeno que estiver sendo produzido. No paciente diabético não compensado, como a  síntese de colágeno é mais lenta, há  maior facilidade para deiscência e contaminação de feridas cirúrgicas, causando retardo da reparação tecidual e aumento do risco de mobilidade dental.

Nos pacientes diabéticos o fator determinante da doença periodontal é a placa bacteriana. Graus variáveis de inflamação podem ser encontrados relacionados a um controle insatisfatório de placa. Alterações no ambiente subgengival, tais como aumento dos níveis da glicose e da uréia no fluido gengival, favorecem o crescimento de algumas espécies bacterianas.  Os diabéticos apresentam alterações vasculares pela  prolongada exposição à hiperglicemia que impedem a difusão do oxigênio, a eliminação de metabólitos. O espessamento dos vasos do periodonto dificulta o transporte de elementos nutritivos à intimidade dos tecidos, fazendo-os mais vulneráveis aos produtos de agressão microbiana e a maior severidade da enfermidade periodontal
Nos diabéticos mal controlados há uma diminuição da resposta imune à infecção, devido a  alteração da fagocitose dos macrófagos e a quimiotaxia dos polimorfonucleares.  O diabetes compromete a produção da matriz óssea pelos osteoblastos, diminui a síntese de colágeno pelos fibroblastos gengivais, além de aumentar a atividade da colagenase gengival. O difícil controle da cicatrização tecidual no diabético decorre da presença de hiperglicemia, microangiopatias, acidez metabólica e ineficácia  da fagocitose pelos polimorfonucleares e  pelos macrófagos.

 Os pacientes diabéticos insulinodependentes apresentaram gengivite com maior freqüência do que os pacientes saudáveis. Embora a gengivite raramente evolua para periodontite, a inflamação gengival é mais frequente nos pacientes diabéticos, quando comparado com não-diabéticos. Entretanto, crianças com um bom controle metabólico não diferem das crianças saudáveis. Se os parâmetros clínicos do diabetes juvenil estiveram sob controle, a doença não exacerbará a inflamação gengival em crianças e adolescentes.
Uma associação positiva foi encontrada entre diabetes e a gravidade da doença periodontal.

O diabético controlado, aglicosúrio e normoglicêmico, poderá se comportar clinicamente como um indivíduo saudável, enquanto que o descompensado necessita de várias medidas profiláticas para submeter-se ao tratamento bucal especializado.

Texto baseado no artigo:  A estreita relação entre diabetes e doença periodontal inflamatória.
(Anagélica Tolentino Madeiro, Fabiana Guedes Bandeira, Cláudia Roberta Leite Vieira de Figueiredo)