Culpa X Atividade Profissional




 CULPA   X   ATIVIDADE PROFISSIONAL

Nós humanos nascemos para influenciar e sermos influenciados. Nós dá a sensação de pertencimento, de identidade.

Quando essa influência passa  a ser exercida de pelo cuidado com o próximo, algo que trás mais benefício para outro do que para nós mesmos, essa sensação de realização é ainda maior. Profissões que lidam com saúde e bem estar, são as que mais se beneficiam diretamente disso.

Ao contrário, quando trabalhamos com algo que não trás direto benefício  para o próximo, esse mecanismo fica incompleto e passamos a sentir a necessidade de fazer algo a mais. 

Quando as nossas ocupações não influenciam positivamente, não trazem cuidado com o alheio ou competem com nossos princípios, passamos a sentir um desconforto íntimo, uma frustração calada pela ausência da sensação de identidade. 

Há algumas profissões onde precisamos exercer não aquilo que está na nossa base moral, mas aquilo que está na exigência do empregador. 


Notoriamente, empresas e negócios visam lucro, independente de quais mecanismos se utilizem para obtê-los. Muitas vezes, os mecanismos usados para obtenção de lucros e aumento de vendas manipulam os nossos sensos biológicos mais profundos, onde somos levados a consumir sem que percebamos que não é algo que escolhemos e sim algo que estamos senso conduzidos a escolher. 

Assim funciona o marketing, os mecanismos de vendas, propagandas, embalagens e muito conteúdo de rede sociais, trabalhando com neurociência e comunicação psicológica visando consumo e influência de opinião.

O foco deste Post não é sobre quem consome, é sobre quem trabalha exercendo essas atividades de marketing, produzindo e promovendo conteúdo de vendas, manipulando o consumidor ou usuário em prol de metas e lucros impostos pelos gestores.

Muitos desses profissionais são super esclarecidos e sabem que sua atividade visa manipular e ludibriar as necessidades e opiniões das pessoas. Muitos são líderes de equipes e se vêem obrigados a convencer as equipes e consumidores que aqueles produtos são ótimos para todos, quando no fundo sabem ser uma inverdade.

Isso gera uma sensação de vazio e necessidade de participar da sociedade de maneira mais positiva. 

A minha opinião é que desses vazios íntimos saem os  radicais sociais e ativistas exacerbados que apregoam a necessidade de  salvar o mundo, salvar o bicho, o mendigo, a criança abandonada. Saem fazendo mil trabalhos voluntários e alardeiam ser isso obrigação de todos.

Passam tanto tempo  exercendo uma profissão que lhes gera vazios íntimos, que, fora da profissão, se tornam exacerbados em opiniões do que pensam ser bom para todos. 

O mesmo parece ocorrer com pessoas sem ocupação ou que passam o dia a dia sem influenciar diretamente outras pessoas. O engajamento passa a ser o principal foco de vida, na tentativa de se sentirem úteis por alguma causa. As ações dessa pessoas trazem mais benefícios para si mesmas, no sentido de aliviar as culpas que sentem, do que o objetivo do ativismo.

Trabalhar com vendas e convencer que o outro precisa daquilo que ele não precisa, já é fazer o mal! Viver uma vida perfeita, com cuidados pessoais ou cercado somente de familiares,  já é egoísta!

O empreendedor que gera renda para outras famílias, que oferta atendimento à saúde ou educação, que cozinha para alimentar, o motorista que ajuda a locomover, o cuidador de animais, o agricultor, tem maior senso de realização social  do que o funcionário de marketing ou vendas, do que o influenciador digital que ludibria para obter vantagens pessoais ou que a pessoa que vive uma vida perfeita, cercada de pares com as mesmas opiniões que elas mesmas.  

Os vendedores de ilusões ou os desocupados se tornam ativistas contra a miséria do mendigo, contra o consumo irresponsável, contra a baleia que se afoga em plástico pelo senso de vazio está dentro deles,  pela culpa intima que sentem, sem conseguirem traduzir...E até o ativismo querem vender...

Trabalhar por uma causa que acredite está muito mais relacionado a colocar a mão na massa e fazer acontecer, do que alardear as próprias opiniões. Está em doar o seu essencial, o seu tempo, seus propósitos, de forma humilde e discreta, sem autopromoção. 

O ativismo radical está muito mais relacionado ao sentimento de improdutividade de sentido social, da necessidade de influenciar a opinião de outros, do que na eficiência do ativismo em si.

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